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AMOR POR CONTRATO

ELA SE CASOU POR OBRIGAÇÃO, ELE POR ORGULHO,

MAS O AMOR ENTRE ELES

CRESCEU SEM PEDIR PERMISSÃO

O restaurante estava particularmente movimentado naquela noite. O murmúrio das conversas e o tilintar dos talheres sobre a porcelana fina enchiam o ambiente com uma atmosfera vibrante e sofisticada. Para Elif, no entanto, era mais um turno de trabalho como qualquer outro. Apesar do cansaço que carregava dos longos dias, ela sempre mantinha uma postura impecável. Ser garçonete ali, no renomado “Café do Pasha”, não era apenas uma forma de sustentar sua família, mas também uma janela para o mundo que um dia ela sonhava conquistar.

Elif estava servindo uma mesa próxima à janela quando notou a entrada de um homem que imediatamente chamou a atenção de todos ao redor. Havia algo no jeito que ele andava, a postura altiva e o ar de frieza em seu olhar, que o destacava da multidão. Demir Yildiz. O nome não era estranho para ela. O empresário de renome era conhecido em Istambul por sua fortuna e poder, mas também pela fama de ser um homem reservado e, para muitos, inatingível.

Demir entrou no restaurante como se estivesse passando por mais um compromisso mundano, sua expressão inalterada e distante. Seus olhos varreram o ambiente com desinteresse, até que, ao cruzar com o olhar de Elif, ele parou por um breve segundo, sentindo algo que não reconhecia há muito tempo. Havia algo naquela mulher que o fez esquecer, ainda que por um instante, o propósito de sua visita. Ela era bonita, claro, mas não era isso que o intrigava. Havia uma serenidade, uma força contida em seu olhar, como se ela visse o mundo de uma maneira diferente da maioria.

Elif notou que ele a observava e, sem permitir que o desconforto transparecesse, caminhou em sua direção com a confiança que sempre mantinha ao servir os clientes. Para ela, Demir era apenas mais um cliente da alta sociedade que frequentava o restaurante. E, como sempre, trataria aquele encontro com profissionalismo.

Demir sentou-se à mesa mais reservada, perto das grandes janelas que davam vista para o Bósforo. Elif aproximou-se calmamente, seu coração levemente acelerado por razões que ela não conseguia explicar.

— Boa noite, senhor. Posso trazer algo para beber? — perguntou Elif, com um sorriso polido e discreto.

Demir, ainda fixando os olhos nela, hesitou por um breve segundo antes de responder.

— Um vinho tinto. O que você recomenda? — Ele disse, sua voz baixa e cheia de uma calma que contrastava com o silêncio intenso que pairava entre os dois.

Elif, surpresa por sua pergunta, refletiu por um momento. Ela conhecia bem o cardápio de vinhos do restaurante e sabia que seus clientes normalmente escolhiam as opções mais caras sem pensar muito.

— Temos um excelente Château Margaux, senhor. Rico, complexo e com um final elegante — sugeriu ela, com a mesma confiança de alguém que entendia do assunto.

Demir a observou atentamente. Ela não parecia como as outras garçonetes, que se limitavam a oferecer o que lhes mandavam. Havia algo na maneira como ela falava, uma profundidade em sua escolha de palavras, que o fez querer saber mais. Decidiu testar um pouco mais.

— Você entende bem de vinhos — disse ele, não exatamente como uma pergunta, mas como uma constatação. — Como aprendeu?

Elif se surpreendeu com a pergunta. Normalmente, os clientes não demonstravam qualquer interesse no que ela dizia além do necessário para o serviço.

— Sempre gostei de aprender sobre comida e bebida. Um dia espero ter meu próprio restaurante — disse, sua voz cheia de uma paixão que ela não conseguiu esconder. — Entender bem o que se serve é o primeiro passo para conquistar os clientes.

Demir ficou impressionado. Ela tinha ambições, algo que ele não esperava encontrar em uma garçonete. E havia algo mais — a sinceridade em suas palavras. Ele a estudou por alguns segundos, percebendo que Elif não era como as pessoas ao seu redor, aquelas que fingiam algo para agradar ou impressionar. Ela era diferente. Verdadeira.

— Um restaurante? — Ele perguntou, arqueando levemente uma sobrancelha, agora genuinamente interessado. — E o que você serviria nele?

Elif, por um momento, hesitou. Não esperava aquele tipo de curiosidade, ainda mais vindo de alguém como Demir Yildiz. Mas, como sempre, manteve sua postura.

— Algo autêntico, mas com um toque de modernidade. Acho que a verdadeira essência de um restaurante está em oferecer algo familiar, mas que surpreenda. — Ela sorriu levemente. — Como encontrar uma antiga lembrança em um novo sabor.

Demir ficou em silêncio por alguns segundos. Sua mente, geralmente tão focada em negócios, vagou brevemente para um mundo de possibilidades, algo que ele não permitia que acontecesse há muito tempo. Essa mulher à sua frente, apesar de sua posição humilde, carregava uma visão e uma confiança que o atraíam mais do que ele gostaria de admitir.

— E você acredita que isso é possível? — perguntou ele, tentando disfarçar seu crescente interesse, mas sem sucesso.

Elif olhou diretamente em seus olhos, sem hesitação.

— Eu acredito que, se você ama o que faz, sempre é possível.

A simplicidade e a força de sua resposta ecoaram nos pensamentos de Demir. Ele, que há tanto tempo havia fechado seu coração para qualquer tipo de sentimento, sentiu-se estranhamente vulnerável diante daquela mulher. Havia uma clareza nos olhos de Elif, uma convicção em suas palavras que o fazia questionar suas próprias escolhas.

Elif, percebendo que a conversa estava ficando mais pessoal do que deveria, apressou-se a mudar o foco.

— Vou trazer o vinho, senhor — disse ela, fazendo uma leve reverência antes de se afastar.

Enquanto Elif se afastava, Demir a acompanhou com o olhar, ainda processando o que acabara de acontecer. Algo nela o atraía de uma forma que ele não conseguia entender, uma sensação que não experimentava desde… Zeynep.

Mas não, ele não podia pensar nisso. Fechou os olhos por um instante, afastando a memória dolorosa de sua mente. Zeynep havia destruído sua confiança no amor, mas Elif… Elif o intrigava. E ele sabia que, a partir daquele momento, não conseguiria simplesmente ignorar aquela jovem garçonete.

Demir decidiu que precisava saber mais sobre ela.

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